Clareamento dental diminuiu demanda por ouro em consultórios

Nos últimos cinco anos, demanda por ouro em consultórios odontológicos recuou quase 60%, com o surgimento de cerâmicas e cimentos dentários mais novos
Por Ranjeetha Pakiam
26 abr 2016, 14h15


Clareamento dental: com a evolução dos tratamentos odontológicos, inserções de ouro perderam espaço para cerâmicas brancas. (ThinkStock)

A popularidade dos sorrisos com dentes brancos como o lírio gerou um negócio bilionário para a Procter & Gamble, mas trouxe apenas más notícias para o ouro.

Até uma década atrás, cerca de 67 toneladas do metal amarelo, quantidade avaliada atualmente em US$ 2,7 bilhões, preenchiam, nivelavam ou eram usadas como coroas em dentes em todo o mundo todos os anos.

Nos últimos cinco anos, porém, a demanda caiu quase 60 por cento, segundo o Conselho Mundial do Ouro. Os dentistas culpam o clareamento dos dentes.

A tendência acelerou um declínio na atratividade do ouro, causada por cerâmicas e cimentos dentários mais novos e pelo aumento do preço dos lingotes.

O metal precioso, que subiu em 2016 porque os investidores redescobriram sua virtude como porto seguro, agora está sendo evitado por um número cada vez maior de pacientes, de Cingapura a Sidney.

“A moda na odontologia agora é que as pessoas precisam ter dentes perfeitos e brancos como o leite”, disse Hugo Sachs, 60, vice-presidente da Associação Dentária Australiana, que é dentista há 37 anos. “Eu duvido muito que o ouro volte a estar na moda”.

A demanda pelo ouro na odontologia caiu 1 tonelada, ou 5 por cento, para 18,9 toneladas em 2015, estima o Conselho do Ouro, com sede em Londres.

“Antigamente, ter um dente de ouro na parte da frente da boca era uma espécie de símbolo de status”, disse Chew Chong Lin, professor de próteses dentárias da Universidade Nacional de Cingapura, que se formou na Faculdade de Odontologia em 1971.

“Com o passar do tempo, os cosméticos assumiram o controle e, portanto, as pessoas começaram a querer ter coroas mais parecidas com os dentes”.

Etruscos

Usado pelos etruscos para fazer pontes dentárias já em 630 AC, o ouro aparece nas bocas das pessoas há milênios. Na antiguidade, as mulheres removiam deliberadamente um ou dois incisivos e os substituíam por próteses de ouro, segundo Marshall Joseph Becker, professor emérito de antropologia da Universidade West Chester, da Pensilvânia, nos EUA.

Os pacientes de hoje preferem materiais como a cerâmica, que se confunde com os outros dentes em vez de destacar-se. E graças a lasers e alvejantes, os dentes brancos nunca foram tão brancos.

O Crest Whitestrips da P&G, que começou a ser vendido em 2000, foi “o maior lançamento de um produto na história” da empresa multinacional de 179 anos, segundo seu principal inventor.

Neste ano, os americanos gastarão US$ 420,1 milhões em produtos de venda para clareamento de dentes, segundo projeção da empresa de pesquisas de mercado Euromonitor International.

Escolha o ouro

Ligas de ouro que contêm quantidades pequenas de prata, cobre, paládio e outros materiais são especialmente resistentes para placas e cavidades, o que as transforma em um dos materiais mais duráveis para o trabalho dentário, como as coroas, disse R. Balakrishnan, que trabalha como dentista na capital da Malásia e no estado de Selangor, que a circunda, há 40 anos.

“No que diz respeito às restaurações posteriores, o ouro deveria retornar”, disse Balakrishnan. “Quando você tem uma coroa dessas, ela dura a vida toda”.

Mas o metal precioso é caro. O preço subiu a cada ano entre 2001 e 2012, atingindo US$ 1.921,17 a onça no mercado à vista em 2011. O ouro avançou 16 por cento, para US$ 1.237,78 no ano até agora.

Isso significa que um paciente que precisa de um preenchimento poderia obter meia dúzia de resinas compostas pelo preço de uma incrustação em ouro em um dente da frente, disse Sachs, que utilizou o ouro para substituir uma estrutura em um dente da frente há 30 anos.

Um preenchimento com uma coroa de ouro poderia usar 5 a 8 gramas do metal precioso, disse Lindsay Richards, reitor da faculdade de odontologia da Universidade de Adelaide, na Austrália Meridional, da qual é professor desde 1982.

“Você teria centenas de dólares em ouro em uma coroa. Esse valor costumava ser de dezenas de dólares”, disse ele. “Isso fez a diferença”.